A República contra a Máquina

1- Não o mero viver, mas a busca da vida bela. 2- A Liberdade não se negocia, a Paz sim. "Pode-se imaginar um prazer e força na auto-determinação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza, treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito seria o espírito livre por excelência" (Nietzsche. Gaia Ciência, parágrafo 347)

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terça-feira, setembro 30, 2008

O partido republicano quer afundar os EUA?

O partido republicano dos EUA, partido do presidente Bush, está trabalhando com extrema competência para afundar os EUA há 8 anos.

Quando assumiram, herdaram um governo com superávit e com alguma respeitabilidade global (independente das críticas que podiam ser feitas). Deixam agora o governo com déficit tremendo, com uma crise econômica gigantesca, com uma guerra baseada em uma mentira e aparentemente sem solução próxima. Deixam também a imagem dos EUA no mundo extremamente deteriorada, como sinaliza o crescimento do anti-americanismo.

Diante da crise, elaboram um plano de última hora onde os constribuintes são chamados para pagar a conta da crise que foi o resultado de 8 anos de desregulamenteção e políticas neoliberais, que deram ampla liberdade para os grandes conglomerados financeiros agirem com queriam. Agora o contribuinte é chamado a pagar 700 bilhões de dólares de ajuda aos grandes jogadores de Wall Street.

Em ano eleitoral, os congressistas rejeitaram o plano de 700 bi, pois não queriam perder votos de seus eleitores. No entanto, sem um plano para resolver essa crise, o problema tende a se agravar. Portanto, seria de esperar que o partido republicano, do presidente Bush, se empenhasse em aprovar o plano de 700 bi. Mas não, o partido de Bush votou contra Bush alegando que se tratava de uma intervenção muito grande do Estado na economia. Alguns chegaram a falar de "socialismo financeiro". Ontem, um deputado republicano chegou a fazer a seguinte comparação no plenário: "Em 1917, quando a revolução na Rússia estava para começar, os bolcheviques pediam 'pão, paz e terra', e na realização desse objetivo perderam a liberdade. Hoje, os EUA estão vivendo uma crise em que temos que optar entre o pão e a liberdade. E o partido republicano não deve ter dúvidas em escolher a liberdade".

Esse argumento principista de um liberalismo radical, ao condenar qualquer idéia de intervenção estatal, constribui ainda mais para o aprofundamento da crise.

A partido republicano prefere destruir os EUA para não destruir um dogma: "a mão invisível do mercado tudo regula e é ela que garante a nossa liberdade".

Resta saber por que ainda há o nome "republicano" no partido. O nome mais adequado seria partido liberal.

O republicanismo - aquela tendência do pensamento político que encontra suas raízes na Grécia, em Aristóteles e Péricles, passando por Roma e pelo Renascimento - sempre desconfiou do mercado livre. A chrematístika (arte de enriquecer, distinta da economia) era vista por Aristóteles como nociva, pois tendia a expandir de modo perigoso os interesses particulares, às custas do bem comum, e tendia a formar cidadãos auto-interessados em um sentido mesquinho, cidadãos sem nenhum interesse na política e que viam a política sempre pela negativa.
Thomas Jefferson também escreveu contra a propriedade móvel e defendeu a propriedade da terra como a mais adequada para a República.
Hegel notou que a sociedade civil-burguesa, organizada pelo mercado, não conseguia resolver seus próprios problemas, não conseguia reduzir a desigualdade e a incerteza produzida pelo mercado, e, portanto, seria necessária a presença maior do Estado na ligação de cada cidadão particular com o bem comum representado pelo Estado, que teria o papel crucial de reduzir a incerteza e evitar o crescimento nocivo da desigualdade.

Enfim, são tanto republicanos que defenderam que a economia deve estar a serviço da política e a política deve estar a serviço da pátria que não vale a pena continuar a tentar entender o significado da palavra "republicano" no partido de Bush: trata-se simplesmente de um embuste, de uma jogada de marketing criada no séc. XIX para herdar o respeito de uma tendência republicana que existia com força nos EUA, mas que foi sufocada pelo liberalismo triunfante que agora começa a desmoronar.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Tutela e despotismo

“Quero imaginar sob quais traços novos o despotismo poderia produzir-se no mundo: vejo uma multidão incontável de homens semelhantes e iguais que se voltam sem descanso sobre si mesmos à procura de pequenos e vulgares prazeres com os quais preenchem a alma. Cada um deles, retirado à parte, é como que estranho ao destino de todos os outros: seus filhos e seus amigos particulares formam para ele toda a espécie humana; quanto ao restante dos seus concidadãos, está ao lado deles, mas não os vê; ele os toca e não os sente; só existe em si e apenas para si só, e, se lhe resta ainda uma família, pode-se ao menos dizer que não tem mais pátria.
Acima destes se eleva um poder imenso e tutelar, que se encarrega sozinho de assegurar seu prazer e velar sobre sua sorte. É absoluto, minucioso, regular, previdente e brando. Se assemelharia ao poder paterno se, como ele, tivesse por objeto preparar os homens para a idade viril; mas, pelo contrário, não busca senão fixá-los irrevogavelmente na infância; agrada-lhe que os cidadãos regojizem, desde que não sonhem senão em regojizar-se. Trabalha de bom grado para sua felicidade, mas quer ser seu único agente e árbitro exclusivo; provê a sua segurança, prevê e assegura suas necessidades, facilita seus prazeres, conduz seus principais negócios, dirige sua indústria, regula suas sucessões, divide suas heranças; que falta tira-lhes inteiramente senão o incômodo de pensar e o tormento de viver?
É assim que todos os dias torna menos útil e mais raro o emprego do livre-arbítrio; que encerra a ação da vontade num pequeno espaço, e subtrai pouco a pouco de cada cidadão até o emprego de si mesmo. A igualdade preparou os homens para todas essas coisas: ela os dispôs a sofrê-las e com freqüência até a considera-las um benefício. Depois de ter tomado sucessivamente em suas mãos poderosas cada indivíduo, e tê-lo petrificado a seu gosto, o soberano estende seus braços sobre a sociedade inteira; cobre a sua superfície com uma malha de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, através das quais os espíritos mais originais e as almas mais vigorosas não poderiam vir a luz para ultrapassar a multidão; não esmaga as vontades, mas as debilita, curva e dirige; raramente força a agir, mas se opõe sem cessar à ação; nunca destrói, impede de nascer; nunca tiraniza, mas constrange, comprime, enerva, extingue e embota, e enfim reduz cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos e diligentes, dos quais o governo é o pastor.
Sempre acreditei que essa espécie de servidão, regulada, doce e pacífica, que acabo de retratar, poderia conjugar-se mais facilmente do que se imagina com algumas das formas exteriores de liberdade, e que não lhe seria impossível estabelecer-se à própria sombra da soberania do povo.
Nossos contemporâneos são incessantemente trabalhados por duas paixões inimigas: sentem a necessidade de serem conduzidos e o desejo de permanecerem livres. Não podendo destruir nem um nem outro destes instintos contrários, esforçam-se por satisfazer ao mesmo tempo a ambos. Imaginam um poder único, tutelar, todo-poderoso, mas eleito pelos cidadãos. Combinam a centralização e a soberania do povo. Isso lhes dá algum descanso. Consolam-se de estar sob tutela, pensando que eles mesmos escolheram seus tutores. Cada indivíduo suporta ser acorrentado, porque vê que não é um homem nem uma classe, mas o próprio povo que segura a ponta da corrente”.
Tocqueville, A. Em: A Democracia na América. V. II.

terça-feira, setembro 02, 2008

Afastamento do delegado Paulo Lacerda

Lula afastou Paulo Lacerda do comando da Abin, depois do grampo no STF

O Dr. Paulo Lacerda foi o responsável pela nova cara da Polícia Federal no Brasil. Ele esteve no comando da PF quando ela começou a prender os criminosos do colarinho branco que historicamente sempre estiveram acima da lei no país. Contrariou interesses diversos, tanto do governo como da oposição. Sob seu comando a PF prendeu cerca de 7.000 empresários, advogados, lobistas, políticos e servidores públicos envolvidos com crime do colarinho branco, evasão de divisas, corrupção e lavagem de dinheiro. A primeira ação famosa de Lacerda foi quando desvendou o esquema PC Farias, em 1992, daí em diante ele nos brindou com as famosas operações da PF com nomes esquisitos, mas que obtiveram amplo apoio da população, por simbolizarem um avanço da igualdade jurídica no país.

Agora, a pedido de Gilmar Mendes (aquele que concedeu habeas corpus para Daniel Dantas) e da oposição, Lula afastou Paulo Lacerda da Abin. Resta saber se é realmente Lacerda quem está por trás do grampo e também porque foi feito o grampo.

De qualquer forma, não dá pra negar que desde a operação Satiagraha, que prendeu Daniel Dantas, os grupos que comandam o aparelho do Estado a serviço das grandes empresas (seja no legislativo, executivo ou no judiciário) começaram uma inédita campanha pelos "direitos civis", contra o uso de algemas, contra o uso de camburão, contra a invasão de privacidade. Nada contra, pelo contrário, sempre me posicionei contra o Estado tutelar ou Estado Polícia. O curioso é que eles só começaram a fazer isso depois da prisão de Daniel Dantas.

Precisamos saber diferenciar o que é abuso policial do que é simplesmente a aplicação da lei de forma igual para ricos e pobres. Se o primeiro deve ser evitado, o segundo faz parte da idéia republicana.

Aliás, quanto aos grampos lanço uma última questão republicana: na vida pública republicana não deve haver transparência? Para que o povo soubesse o que seus representantes fazem não seria necessário então que, ao assumir um cargo público, o ocupante do cargo tivesse automaticamente seus telefones "grampeados" pelo povo, pela opinião pública?

Se a interferência do Estado na vida privada é uma invasão inaceitável que atenta contra a liberdade, na vida pública é normal que haja publicidade e não privacidade. Senão como refrear o domínio dos interesses particulares sobre a coisa pública?

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