A República contra a Máquina

1- Não o mero viver, mas a busca da vida bela. 2- A Liberdade não se negocia, a Paz sim. "Pode-se imaginar um prazer e força na auto-determinação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza, treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito seria o espírito livre por excelência" (Nietzsche. Gaia Ciência, parágrafo 347)

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quarta-feira, agosto 12, 2009

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Dicionário de Política

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Crise no Senado

A crise no Senado revela o poder dos burocratas e a falta de divergência política substantiva entre os principais partidos que disputam o poder. O poder da burocracia aparece no início da crise quando descobriram algumas das roubalheiras e indecências realizadas por Agaciel Maia, diretor-geral do Senado. Vendo-se acuado, Agaciel reagiu soltando alguns "podres" dos senadores, entre eles, o caso do paladino da moralidade, Arthur Virgílio, do PSDB, que tinha um funcionário recebendo salário a dois anos sem trabalhar, pois morava na Espanha.

A corrupção tem sido o principal tema da política nacional nos últimos anos porque não há diferença política substancial entre PT e PSDB. Quer dizer: não há diferença fundamental nas políticas adotadas pelos governos dos dois principais partidos. O PT deu continuidade à política econômica do PSDB, mantendo um tucano no comando do banco central, Henrique Meirelles, e deu continuidade às políticas sociais focalizadas iniciadas no governo FHC. O Bolsa família é uma ampliação do bolsa escola. Sim, podemos dizer que esse tipo de assistência social focalizada recebeu mais verbas no governo Lula, mas apenas afirmo que em termos de qualidade é o mesmo tipo de política, o que muda é a extensão dessas políticas. O próprio PSDB já parou de fazer críticas explícitas ao Bolsa Família e procura se mostrar como o pai do bolsa família, um programa que além de melhorar timidamente a condição de vida de milhões de brasileiros, como atestam estudos realizados pela FGV, também é uma fonte importante de votos. As diferenças mais nítidas entre o governo Lula e o governo FHC estão mais no plano simbólico do que no plano das políticas implementadas, o que não quer dizer que os dois governos tenham sido idênticos. É possível notar diferenças na política externa, como uma preferência do governo Lula pela busca de um maior protagonismo do Brasil na cena internacional, uma maior independência do Brasil em relação aos EUA (que já existia em um grau menor no governo FHC) e uma preferência por alianças com os países do terceiro mundo. Também podemos notar no governo Lula um freio na política de privatizações e na flexibilização dos direitos trabalhistas. Um freio não quer dizer novas políticas, não quer dizer diferenças positivas, mas apenas parar ou diminuir o ritmo de um processo anterior. É preciso registrar que a popularidade de Lula e seu governo estão bastante elevadas, a de Lula está em mais de 80% de aprovação, um recorde entre todos os presidentes já avaliados por este tipo de pesquisa. Isto demonstra de do ponto de vista eleitoral, a continuidade na política econômica de FHC e a ampliação dos programas sociais gerados em seu governo tiveram impacto positivo entre os eleitores. Também é preciso registrar que a política externa "terceiro mundista" também teve impacto positivo ou não afetou negativamente a opinião da maioria dos eleitores. Outro fator importante é a mudança da opinião da maioria dos eleitores a respeito das privatizações: a maioria apóia o freio nas privatizações operado pelo governo Lula, o que pode se notado na mudança de discurso do candidato Geraldo Alckmin durante a última campanha presidencial, quando Lula o acusou de querer privatizar a Petrobrás e o PSDB ficou na defensiva tentando demonstrar que não tinham esta intenção "antipatriótica".

Dito isto fica um problema: como a oposição do PSDB e DEM conseguirá se diferenciar do governo e se mostrar como alternativa superior ao governo nas próximas eleições? Não será pela via de apresentar uma diferença política, uma diferença de projeto para o Brasil, pois as semelhanças na prática entre o PT e o PSDB são muitas e a população segue, em sua maioria, apoiando o governo Lula. Portanto, seria burrice eleitoral se a oposição tentasse apresentar um projeto totalmente novo. Resta então tentar se diferenciar no plano da moralidade: a oposição tenta se diferenciar se apresentando como mais ética que o governo, e tenta impor ao governo a imagem de "o mais corrupto da história". Para essa missão, a oposição conta com a ajuda de importantes meios de comunicação que tem preferência pelo PSDB e DEM. Este é o caso da revista política mais vendida do país, a Veja, e dos principais jornais impressos do país: Folha, Estado e O Globo. A TV Globo joga no meio de campo, procurando moderar sua oposição ao governo Lula, em parte por conta das dívidas da Globo com o BNDES. Ocorre que a imprensa escrita perdeu muito de seu poder de convencimento. Ela é formadora de opinião, é certo, mas forma a opinião de setores da classe média. No Brasil, a classe média é a minoria da população, o que diminui as possibilidades da luta da imprensa escrita contra o governo Lula e a favor do PSDB e DEM. Outro fator que enfraquece a estratégia da oposição de se apresentar como "os políticos éticos" é que a maioria dos eleitores imagina que todos os políticos são corruptos, em maior ou menor grau. Então não seria por aí que se encontraria uma diferença positiva. Assim, na mente de muitos eleitores trata-se não de votar no honesto contra o corrupto, mas sim de votar no que traz mais benefícios imediatos contra o que traz menos benefícios.

A crise do Senado pode ser mais uma prova da fragilidade da estratégia da oposição, pois a crise não tem atingido a imagem de Lula e seu governo, ficando restrita a desgastar a imagem do Senado, um desgaste que aparece mais para os eleitores das classes A e B. Ora, é no Senado que a oposição têm mais força, como desgastar a instituição do Senado pode ajudar a oposição? O ataque ao velho coronel, Sarney, pode criar um ressentimento grande do PMDB contra o PSDB e DEM, fortalecendo ainda mais a aliança do PMDB com o PT nas próximas eleições, isto sem ter como contrapartida um ganho expressivo de votos por parte dos eleitores indignados com a corrupção. Além disso, a continuidade da crise pode levar a uma guerra total onde os dois lados, governo e oposição, sairão perdendo, pois todos têm telhado de vidro, como demonstrou o caso de Arthur Virgílio, para não falar de escândalos regionais, como o da governadora Yeda Crusius do RS.

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