A República contra a Máquina

1- Não o mero viver, mas a busca da vida bela. 2- A Liberdade não se negocia, a Paz sim. "Pode-se imaginar um prazer e força na auto-determinação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza, treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito seria o espírito livre por excelência" (Nietzsche. Gaia Ciência, parágrafo 347)

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quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Dureza e liberdade para Maquiavel

O florentino, celebrado por muitos como o primeiro moderno, retoma uma reflexão antiga do pensamento republicano: a relação entre uma certa dureza de personalidade - que possibilita o governo de si e a defesa da Polis - e a liberdade:

Vejam este trecho dos Discorsi de Maquiavel:
“Quando se considera por que os povos da antiguidade amavam a liberdade mais do que os da nossa época, parece-me que a razão é a mesma que explica por que hoje os homens são menos robustoso que se relaciona, a meu juízo, com a diferença entre a nossa educação e a dos antigos, e a diferença, igualmente grande entre a nossa religião e a dos antigos.
Com efeito, nossa religião, mostrando a verdade e o caminho único para a salvação, diminuiu o valor das honras deste mundo. Os pagãos, pelo contrário, que perseguiam a glória (considerada o bem supremo), empenhavam-se com dedicação em tudo que lhes permitisse alcançá-la. Vê-se indícios disto em muitas das antigas instituições, a começar pelos sacrifícios, esplendorosos em comparação com os nossos, bastante modestos, e cujo rito, mais piedoso do que brilhante, nada oferece de cruel capaz de excitar a coragem.
A pompa das cerimônias antigas era igual à sua magnificência. Havia sacrifícios bárbaros e sangrentos, nos quais muitos animais eram degolados; e a visão reiterada de um espetáculo tão cruel endurecia os homens. As religiões antigas, por outro lado, só atribuíam honras divinas aos mortais tocados pela glória mundana, como os capitães famosos, ou chefes de Estado. Nossa religião, ao contrário, só santifica os humildes, os homens inclinados à contemplação, e não à vida ativa. Já os pagãos davam a máxima importância à grandeza d’alma, ao vigor do corpo, a tudo, enfim, que contribuísse para tornar os homens robustos e corajosos. Se a nossa religião nos recomenda hoje que sejamos fortes, é para resistir aos males, e não para incitar-nos a grandes empreendimentos.
Parece que esta moral nova tornou os homens mais fracos, entregando o mundo à audácia dos celerados. Estes sabem que podem exercer sem medo a tirania, vendo os homens prontos a sofrer sem vingança todos os ultrajes, na esperança de conquistar o paraíso." (Maquiavel. Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio)

Quando a glória se torna pecado e a fraqueza se torna virtude só resta mesmo oferecer a outra face. Atenção para os efeitos psicológicos desta nova pedagogia cujos princípios tornaram-se laicos e não pararam de se aprimorar. Procuremos saber se há alguma relação entre estes homens domésticos modernos e o avanço da sociedade do controle, com seu Estado tutelar ao estilo Big Brother, grande pai que nos protege de todos os riscos.

Tema semelhante foi tratato em uma crítica neste blog sobre o filme "Os 300 de Esparta". O link é este:
http://republicacontramaquina.blogspot.com/2007/04/os-300-de-esparta.html

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