A República contra a Máquina

1- Não o mero viver, mas a busca da vida bela. 2- A Liberdade não se negocia, a Paz sim. "Pode-se imaginar um prazer e força na auto-determinação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza, treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito seria o espírito livre por excelência" (Nietzsche. Gaia Ciência, parágrafo 347)

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quarta-feira, maio 16, 2007

A eleição de Sarkozy é realmente um avanço da direita na Europa?

Será que a eleição de Sarkozy na França significa um avanço da direita na Europa? Se for, é um avanço de que tipo de direita?

Certamente é um avanço da direita, com seu discurso contra os imigrantes e contra alguns supostos excessos do "Estado de bem-estar social". Mas, depois de assumir, suas propostas de cortes nos gastos sociais ficaram reduzidas a poucas mudanças pontuais. No seguro desemprego, por exemplo, quer fazer com que o beneficiado que recusou três oportunidades de emprego perca o benefício. Mas, no geral, não pretende Sarkozy fazer reformas liberalizantes profundas contra o Estado de bem-estar social. Em parte porque não conseguiria. Enfrentaria a resistência da sociedade francesa, e não apenas dos eleitores de Segolene Royal, como sindicatos e periferias, mas também entre boa parte de seus próprios eleitores Sarkozy perderia apoio.

Então Sarkozy foi uma vitória da direita, mas não de uma extrema direita fascistóide como a representada por Jean Marie Le Pen, e sim de uma centro-direita liberal que provavelmente não terá força para implementar boa parte dos seus desejos robinsonianos.

Vitória da direita significou uma derrota da esquerda? Isso se houvesse realmente uma alternativa de esquerda. Não parecia ser o caso de Segolene Royal. Seu "esquerdismo" se limitava a uma posição mais "compreensiva" com os imigrantes. No plano das relações internacionais, queria manter uma independência em relação à política externa dos EUA. Sarkozy depois de eleito sugeriu um nome de esquerda para cuidar das relações exteriores, um ex-líder do maio de 68, indicando que a França não fará aliança incondicional com os EUA. E, nesse ponto, Sarkozy pode representar um avanço mais lento do "cosmopolitismo liberal" do que Royal, isso porque a candidata derrotada era favorável a um novo referendo sobre a constituição européia. A França já fez o referendo e rejeitou a constituição européia. Tanto a direita quanto a esquerda eram contrárias à esta constituição, e por motivos diferentes: para a esquerda (trotskistas e PCF) a constituição era liberal demais e iria atacar os benefícios sociais e trabalhistas dos franceses. Para a direita, a constituição significava reduzir a soberania da França, transferindo decisões para a sede do parlamento europeu em Bruxelas.

É interessante notar que os dois motivos (da esquerda e da direita) usados na crítica à constituição européia são republicanos. A defesa da igualdade entre os cidadãos e da soberania nacional. Os cosmopolitas liberais que querem derrubar as fronteiras entre os países estão criando formas de poder cada vez mais externas ao poder dos cidadãos, cada vez mais distantes do controle popular. No caso da União Européia, isso quer dizer que um cidadão francês terá ainda menos influência sobre as decisões políticas que afetam sua vida, pois o centro de decisões se afasta cada vez mais, parlamento europeu, em Bruxelas, banco central europeu, financistas internacionais, etc.

O cosmopolitismo tem uma intenção humanitária: acabar com as divisões nacionais entre os homens, que provocaram tantas guerras. No entanto, o resultado de suas ações é a criação de um gigantesco poder imperial, externo e distante dos cidadãos, um poder "impessoal" que regula cada vez mais as vidas dos cidadãos passivos. E essa administração de vidas se dá na forma de "gestão" e não em uma forma política, o que representa um sério risco para a liberdade.

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