A República contra a Máquina

1- Não o mero viver, mas a busca da vida bela. 2- A Liberdade não se negocia, a Paz sim. "Pode-se imaginar um prazer e força na auto-determinação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza, treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito seria o espírito livre por excelência" (Nietzsche. Gaia Ciência, parágrafo 347)

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sexta-feira, março 02, 2007

Tecnologia do controle avança sobre a liberdade 1

Folha de São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

"Big Brother" intimida infrator britânico
Multiplicação de câmeras de vigilância desperta críticas a restrição de liberdades civis imposta pelo governo
MARCO AURÉLIO CANÔNICOENVIADO ESPECIALA MIDDLESBROUGH

A cena parece saída de um filme de ficção: um garoto está andando de bicicleta na calçada quando a voz de uma autoridade invisível surge do nada. "O rapaz de camiseta preta na bicicleta poderia, por favor, desmontar?", diz a voz, em um tom educado, mas resoluto. Surpreso, o garoto procura o lugar de onde vem o comando -um alto-falante acoplado a uma câmera, no alto de um poste- e obedece, enquanto as pessoas na calçada o observam, algumas rindo, outras espantadas.

Se a história parece incrível, "você ainda não ouviu nada", como avisa o slogan da prefeitura de Middlesbrough, no nordeste da Inglaterra, sobre a novidade da cidade no combate à desordem social: câmeras de vigilância com sistema de som.

A cena é apenas uma das muitas que se tornaram corriqueiras desde que a cidade instalou, há dois meses, alto-falantes que permitem às autoridades intervir no momento em que uma infração é cometida. A prefeitura não esconde o princípio por trás do novo método: envergonhar o infrator. "O sistema destaca a pessoa no meio da multidão, chama a atenção de todos para o infrator que, envergonhado, obedece ao comando e corrige sua atitude", explica Jack Bonnar, o gerente da CCTV (televisão de circuito fechado) na cidade.

A Folha visitou o centro de operação das câmeras de Middlesbrough, que funciona 24 horas por dia. Três operadores por turno sentam-se em frente a 28 monitores ligados às 146 câmeras que vigiam as ruas. Sete delas, todas na região central, ganharam alto-falantes, cuja meta não é reprimir crimes mais sérios como roubos -contra os quais são ineficientes, segundo estudos do governo-, mas infrações leves, como jogar lixo na rua, brigar ou furtar cones de sinalização. "A câmera detecta o problema, mas não o interrompe ou evita, que é o que conseguimos fazer quando falamos com as pessoas", diz Bonnar. Ele cita dados positivos -80% de redução nos pequenos delitos, melhoria na limpeza da cidade- como prova de que o sistema, ainda em fase inicial, funciona.

Sociedade de vigilância
O exemplo gerou críticas de sociólogos e organizações de defesa das liberdades civis. "A humilhação pública não é a melhor forma de controle social", disse ao jornal "The Guardian", o professor Clive Norris, da Universidade de Sheffield.Norris, maior especialista britânico em CCTV, diz que o Reino Unido está passando de uma sociedade de informação para uma de vigilância: "O país tem mais de 4 milhões de câmeras em ação, uma para cada 14 pessoas. É mais do que em qualquer lugar do mundo, com a possível exceção da China. "Ele identifica um salto no número de câmeras no governo Blair, que tem sido constantemente atacado por adotar políticas de restrição aos direitos individuais. "Temos um premiê que insiste no argumento de que os conceitos de liberdade civil foram criados para uma época passada", escreveu o romancista Henry Porter no jornal "Independent".

O que deixa os críticos atordoados é a aceitação da população. Uma pesquisa do instituto YouGov mostrou que 72% da população não vê as medidas como invasivas. Porter cita Benjamin Franklin, um dos pais fundadores dos EUA, para mostrar sua aversão a tal aprovação. "Aqueles que aceitam ceder liberdades essenciais em troca de segurança temporária não merecem nem segurança nem liberdade."

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