Glória, Napoleão, Antigos e Modernos
“O sacrifício que o soldado de Napoleão fazia de sua vida, para ter a honra de participar de uma epopéia ‘eterna’ e de viver na glória da França, embora reconhecendo ‘que sempre seria um pobre homem’; as virtudes extraordinárias demonstradas pelos romanos, que se resignavam a uma terrível desigualdade e se empenhavam tanto para conquistar o mundo; ‘a fé na glória (que foi) um valor sem igual’ criado pela Grécia e graças ao qual ‘foi feita uma seleção na massa espessa da humanidade, a vida encontrou uma motivação, houve uma recompensa para quem havia buscado o bem e o belo’, são coisas que a filosofia intelectualista não saberia explicar”.
(Georges Sorel, Reflexões sobre a violência. Ed. Martins Fontes, p. 43).
“Napoleão foi a última batalha do terrorismo revolucionário contra a sociedade burguesa, também proclamada pela Revolução, e sua política. É certo que Napoleão já possuía também o conhecimento as essência do Estado moderno, e compreendia que este tem como base o desenvolvimento desenfreado da sociedade burguesa, o livre jogo dos interesses privados etc. Ele decidiu-se a reconhecer estes fundamentos e a protegê-los. Não era nenhum terrorista fanático e sonhador. Porém, ao mesmo tempo, Napoleão seguia considerando o Estado como um fim em si e via na vida burguesa apenas um tesoureiro e um subalterno seu, que não tinha o direito de possuir uma vontade própria. E levou a cabo o terrorismo ao por no lugar da revolução permanente a guerra permanente. Satisfez até a saciedade o egoísmo do nacionalismo francês, mas reclamou também o sacrifício dos negócios, o desfrute, a riqueza etc. da burguesia, sempre que assim o exigisse a finalidade política da conquista. E, se reprimiu despoticamente o liberalismo da sociedade burguesa, o idealismo político de sua pratica cotidiana, não poupou também seus interesses materiais essenciais, o comércio e a indústria, quando estes se chocavam com seus interesses políticos. Seu desprezo pelos hommes d’affaires industriais era o complemento de seu desprezo pelos ideólogos. Também em direção ao interior combatia o inimigo do Estado na sociedade burguesa, Estado que ele considerava como um fim em si absoluto”.
(Marx, K. A Sagrada Família. Ed. Boitempo, p. 142)
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